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Crónica do Gene Viajeiro

Texto de: Adelina Pereira
Adiaspora.com

É um facto incontornável que o gene português tem vindo a viajar extensivamente pelo Mundo desde o sec. XV, contribuindo activa e paulatinamente para a miscigenação dos povos, processo o qual que nos parece ser inerente à condição humana. Não é de todo surpreendente que o célebre sociólogo brasileiro, Paulo Freire, tenha afirmado que o mestiço foi uma criação dos Portugueses.

A verdade é que o gene viajeiro português não restringiu a sua acção heterogenizadora aos povos indígenas dos territórios achados e conquistados que integraram ao Império. Audaz e atrevido, esforçou-se este aguerridamente para deixar a sua marca inapagável nos destinos étnico-culturais de outros grupos populacionais pelos cinco continentes.

Frequentemente, é nos encontros efémeros que nos condimentam a rotina quotidiana, que tomamos consciência, de forma mais real e presente, do cariz universalista do perseverante gene lusitano…

Certo dia, encontrava-me enfadada, numa longa fila de espera, aguardando o embarque no Aeroporto Francisco Sá Carneiro, rumo a Londres. À minha frente, três sul-africanos conversavam alegremente em Africânder. Ao me deparar com o idioma que foi, em tempos, a minha segunda língua, as saudades apertaram e não resisti meter conversa com uma das senhoras do grupo. Disse-me ela que era Africânder, originária da Província do Cabo, mas havia alguns anos que residia com a sua família em Swindon, na periferia londrina. O grupo regressava de Portugal, onde se tinha encontrado com um primo –  um prestigiado antropólogo sul-africano, galardoado pelo Governo Português pelo estudo que efectuou sobre a presença e a influência dos portugueses na África do Sul através dos tempos.

“Lembra-se daquela canção tradicional sul-africana “Vat jou goed en trek, Ferreira, Jannie met die hoepelbeen…” “Claro que sim! Cantei-a muitas vezes na escola!”, respondi entusiasticamente. “O meu nome de solteira é precisamente Ferreira”, continuou ela solicitamente. “Sou descendente desse mesmo Jannie Ferreira! Por iniciativa do meu primo antropólogo, resolvemos juntar-nos e conhecer Portugal, a terra do nosso antepassado.”

Jannie Ferreira (João Ferreira) fora o dono abastado de uma quinta nos arredores de Somerset East, na Província do Cabo. Era conhecido nas redondezas por “Hoepelbeen” (o Perna Arcada), por este ter uma perna mais curta do que a outra. A determinada altura, decidiu vender a propriedade a um lavrador abastado seu vizinho, o Senhor van Aardt. Contudo, após a transacção, João Ferreira mostrou alguma relutância em deixar a quinta. O povo, consternado e perplexo pela irrazoabilidade demonstrada pelo português, envidou todos os esforços e mais alguns para resolver o impasse, mas em vão. João Ferreira não arredava pé!

Todavia, Ada, a criativa e corajosa filha de van Aardt, e uma amiga inglesa de nome Annie Molony, não se deram por vencidas. Decidiram engendrar um plano para se livrarem de João Ferreira de uma vez por todas!

Aproveitando as festas da aldeia, em que o povo se juntava todo, compuseram a letra e música daquilo que é hoje um dos mais conhecidos e populares trechos do Cancioneiro Africânder. 


Vat jou goed en trek Ferreira,
vat jou goed en trek!
Agter die bos is 'n klompie perde,
vat jou goed en trek!
Swaar dra, al aan die een kant,
swaar dra, al aan die een kant,
swaar dra, al aan die een kant,
vat jou goed en trek!


(Pega nas tuas coisas e desanda, Ferreira/ Pega nas tuas coisas e desanda!/Por detrás da floresta estão uns cavalos/ Pega nas tuas coisas e desanda!/Pega com garra, tudo para o mesmo lado/ Pega com garra, tudo para o mesmo lado/Pega com garra, tudo para o mesmo lado/Pega nas tuas coisas e desanda!)

No decorrer dos festejos, ao avistarem João Ferreira, Perna Arcada, as moças desataram a cantar, alto e bom som, para que todos ouvissem! João Ferreira ficou de tal maneira envergonhado, pois a canção não só exprimia o quão indesejado ele era no sítio, mas também aludia à sua perna defeituosa!

Humilhado publicamente, não lhe restou outra saída senão pegar nas suas coisas, e desandar!

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